Rios liberam carbono milenar na atmosfera em escala global

Estudo revela que mais da metade do CO₂ emitido por rios provém de carbono antigo

12.06.2025 | 15:49 (UTC -3)
Revista Cultivar
Imagem aérea de rios no nordeste da Sibéria que são conhecidos por emitir carbono antigo - Fonte: Universidade de Bristol
Imagem aérea de rios no nordeste da Sibéria que são conhecidos por emitir carbono antigo - Fonte: Universidade de Bristol

A maior parte do dióxido de carbono liberado por rios e córregos ao redor do mundo tem origem em reservas de carbono muito antigas. Análise de cientistas mostra que 59% das emissões fluviais de CO₂ resultam da liberação de carbono milenar ou até petrogênico, aquele armazenado há mais de 55 mil anos.

Até agora, acreditava-se que o CO₂ emitido pelos rios vinha principalmente da respiração de matéria orgânica recente, capturada da fotossíntese em escalas de tempo inferiores a dez anos. Essa suposição sustentava os principais modelos do ciclo do carbono terrestre.

O novo estudo, liderado por cientistas da Universidade de Bristol, aponta que o carbono fluvial, ao contrário, carrega a de fontes muito mais antigas, implicando em perda real de carbono estocado nos solos, sedimentos e rochas.

Banco de dados global revela a idade

A pesquisa utilizou um banco de dados global com 1.195 medições do conteúdo de radiocarbono (F¹⁴C) em carbono inorgânico dissolvido (DIC), CO₂ e metano (CH₄) de rios em todos os continentes.

Foram consideradas tanto medições já publicadas quanto novas coletas em rios da China, Reino Unido, Camboja, Taiwan e Antártida. A análise demonstrou que a idade média do CO₂ fluvial varia entre 320 e 722 anos radiocarbônicos, com algumas amostras indicando idades muito mais antigas.

Para explicar esses dados, os pesquisadores modelaram a proporção de fontes de carbono. Os resultados indicam que cerca de 1,2 ± 0,3 petagramas de carbono por ano (Pg C/ano) emitidos por rios provêm de carbono “velho” – milenar ou petrogênico. Isso equivale a mais da metade de toda a emissão de CO₂ por rios, estimada em 2,0 Pg C/ano. Em comparação, o sequestro de carbono pelas plantas terrestres gira em torno de 2,9 Pg C/ano.

Condutos de carbono estocado

A descoberta obriga a repensar o papel dos rios no ciclo do carbono. Em vez de apenas reciclarem carbono de curto prazo, essas vias aquáticas funcionam como condutos que liberam carbono armazenado durante milhares de anos. Isso significa que parte do carbono que se acreditava estável em solos e rochas está, na verdade, sendo liberada na atmosfera.

A origem desse carbono mais antigo está associada a dois mecanismos principais.

O primeiro é o intemperismo químico de rochas sedimentares, especialmente aquelas ricas em carbonatos e matéria orgânica fóssil.

O segundo envolve a degradação de carbono orgânico profundo nos solos, liberado por fluxos hidrológicos subterrâneos e erosão.

Ambos os processos não estavam devidamente contabilizados nos modelos de ciclo de carbono atuais.

Litologia, bioma e clima

A análise também mostrou que características do terreno influenciam fortemente a idade do carbono emitido. Bacias hidrográficas sobre litologias sedimentares, como calcários, apresentaram os menores valores de F¹⁴C, indicando presença de carbono muito antigo. Bacias maiores, com maiores altitudes e menor cobertura florestal, também tendem a liberar mais carbono milenar.

Outros fatores como precipitação, temperatura, teor de carbono e areia no solo influenciam o tipo de carbono liberado. Bacias com temperaturas médias anuais mais elevadas e chuvas intensas tendem a liberar carbono mais jovem, mas até certo limite. Em regiões extremamente úmidas ou áridas, a liberação de carbono antigo aumenta.

Modelos precisam ser revisados

As implicações são relevantes para o entendimento das mudanças climáticas. Parte das emissões de CO₂ atribuídas à respiração de ecossistemas recentes, na verdade, vem da perda de estoques antigos.

Além disso, ao contrário do que se imaginava, o tamanho do rio não reduz a influência do carbono antigo. Mesmo rios de grande porte, como o Mekong ou o Amazonas, liberam CO₂ de origem milenar em quantidades significativas.

Ao reavaliar o balanço global de carbono, os autores mostram que a contribuição dos rios para a emissão de carbono antigo afeta diretamente a estimativa de quanto carbono antropogênico a biosfera terrestre é capaz de armazenar. Se parte da emissão fluvial não corresponde a carbono recente, então a capacidade de sequestro da vegetação pode estar subestimada.

Mais informações em doi.org/10.1038/s41586-025-09023-w

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